Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) estão
desenvolvendo estudos com a pulchellina, uma proteína extraída das
sementes da Abrus pulchellus, espécie de trepadeira nativa no País,
encontrada no nordeste brasileiro e também na África.
Os estudos in vitro mostraram que a pulchellina apresenta uma
atividade tóxica celular, interferindo na síntese de proteínas. Outra
particularidade é que ela leva à apoptose, que é a morte celular
programada.
Essas
características fazem dela uma candidata ao desenvolvimento, no futuro,
de fármacos dirigidos ao tratamento de tumores, principalmente os
superficiais (de pele). Os estudos estão sendo conduzidos pelo Grupo de
Biofísica Molecular “Sérgio Mascarenhas”, do IFSC, sob a coordenação da
professora Ana Paula Ulian de Araújo, com participação da professora
Leila Maria Beltramini, do IFSC, além de outros três pesquisadores,
técnicos e alunos de pós-graduação.
A pulchellina é considerada uma proteína inativadora de ribossomos
(locais de síntese de proteínas dentro das células) do tipo 2 (RIP tipo
2). “A ricina, encontrada na mamona, e a abrina, encontrada na Abrus precatorius,
pertencem à mesma família e podem ser consideradas como outros exemplos
mais conhecidos dessa família de RIPs tipo 2”, conta a professora Ana
Paula.
A pesquisadora explica que os primeiros estudos começaram a ser
realizados há cerca de dez anos, quando o pesquisador Renato de Azevedo
Moreira, da Universidade Federal do Ceará, forneceu algumas sementes da
planta para pesquisa.
Ao longo deste tempo, foi possível realizar alguns estudos básicos
sobre a pulchellina, como os de caracterização da citotoxicidade da
proteína, bem como o isolamento e a identificação de isoformas.
“Identificamos quatro isoformas mais viáveis para aplicação em
pesquisas, sendo que algumas são mais tóxicas que outras”, diz a
professora.
Moléculas recombinantes
A molécula da pulchellina apresenta duas partes. Uma é responsável
pelas atividades de toxicidade. A outra, responde pelo mecanismo que
permite a sua entrada dentro das células. “Estamos trabalhando tanto com
a proteína nativa, extraída e purificada diretamente da planta, como
também com as duas partes isoladamente, obtidas por meio de engenharia
genética”, explica. “Neste processo, o gene da planta foi isolado e
introduzido em uma bactéria para esta célula produzir as partes da
proteína em um meio de cultura apropriado. Estas novas moléculas são
chamadas de recombinantes”, conta.
Atualmente, os pesquisadores contam com a parceria de uma empresa de
biotecnologia de Campinas, onde estão sendo realizados estudos in vitro e
em animais com o objetivo de desenvolver uma formulação que permita a
entrada da cadeia tóxica da pulchellina dentro da célula tumoral sem
afetar as demais. “A ideia é que uma vez desenvolvida a nanoestrutura e a
formulação, a toxina poderá ser utilizada sobre tumores localizados
superficialmente”, diz a professora.
O projeto para aplicação biotecnológica da pulchellina está em
andamento e encontra-se em fase de avaliação da eficácia do sistema
tanto in vitro como in vivo. A pesquisa tem apoio do Programa de
Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE) do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Fonte: [ Agência USP ]
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