Podemos curar -nos de uma enfermidade
sem necessidade de ingerir medicamentos; todos nós já passámos por esta
situação. No entanto, quando alguém está doente, a principal
preocupação é administrar-lhe um remédio. Esta necessidade de medicação a
qualquer preço está implícida no nosso conceito de cura, já que se
admite normalmente que “sem medicamentos, não há cura”.
Supõe-se que os medicamentos contêm
todas as capacidades curativas necessárias para devolver a saúde a um
corpo enfermo. E, no entanto, quantos doentes se curam sem medicamentos,
tanto por não disporem deles, como por não quererem tomá-los? E os
animais, como podem curar -se se não dispõem de qualquer medicamento?
Será possível que exista outra alternativa?
A medicina natural fala da “natureza
medicamentosa” ou da “força vital do organismo”. Esta não pode ser
identificada com qualquer órgão do corpo, pois a sua existência só se
manifesta pelos efeitos da sua acção. Hipócrates dizia que ela “é a
força de coesão e de acção mais poderosa que existe. No entanto, é
invisível; só o raciocínio pode concebê-Ia”.
Em estado de saúde, a força vital
organiza, sincroniza e congrega todas as funções orgânicas. Trabalha
incessantemente para manter o organismo no mais perfeito estado de saúde
e equilíbrio.
Caso existam feridas, é ela que orienta
a regeneração dos tecidos, através da cicatrização das chagas. Quando o
corpo é agredido por produtos nocivos à sua integridade, quer provenham
do exterior (venenos, micróbios, etc.) como do interior (toxinas e
resíduos do metabolismo), alerta todo o organismo e posiciona o sistema
de defesa.
Face ao aumento das sobrecargas e da
contaminação dos tecidos, a força vital não permanece como uma
espectadora passiva. Reage activamente para restabelecer a ordem no
organismo, com o propósito de que este possa continuar a funcionar.
Todos os seus esforços estão encaminhados no sentido de restabelecer a
pureza do meio humoral, neutralizando as toxinas e expulsando-as para
fora através dos diversos canais excretores. Estas descargas de toxinas
podem assumir aspectos bastante espectaculares. São crises de
desintoxicação, também chamadas de crises de limpeza ou crises
curativas.
A eliminação é efectuada pelos canais
que disso se encarregam habitualmente, empregando estes apenas uma
energia maior. Através das vias respiratórias, expulsam-se ou
expectoram-se os resíduos coloidais; pelas vias urinárias, as urinas
carregadas e ácidas expulsarão os resíduos para fora. A pele elimina-os
mediante a sudação, borbulhas ou eczemas diversos. O tubo digestivo
também participa, através das diarreias libertadoras ou das abundantes
secreções biliares.
Os canais requeridos dependem da
natureza dos resíduos e da respectiva força dos diferentes órgãos; daí
as diferenças importantes registadas de um indivíduo para outro e das
múltiplas possibilidades de localização dos transtornos. Estes
transtornos locais são a manifestação visível das reacções defensivas
da força vital que tenta corrigir o mal profundo: a contaminação
humoral.
Na medicina clássica, cada reacção
defensiva local se classifica segundo as suas características, recebendo
um nome próprio e, com a continuação, acaba por ser considerada uma
enfermidade em si mesma. A natureza higienizadora das doenças já foi
proclamada por Hipócrates: “Todas as enfermidades se curam por
intermédio de alguma evacuação. O órgão do suor é comum a todos os
males.” Thomas Sydenham, médico inglês do século XVII, escrevia: “A
doença não é mais que um esforço da natureza que, para preservar o
doente, trabalha com todas as suas forças para evacuar a matéria
mórbida”. Mais recentemente, em 1924, o Dr. Paul Carton, o “Hipócrates
do século xx”, declarava: “… A doença, realmente, não é mais que a
tradução de um trabalho interior de neutralização e de limpeza tóxica
que se realiza no organismo, com o propósito da conservação e da
renovação [...] a enfermidade exprime um esforço de purificação e de
conservação e não um trabalho de destruição da saúde…”
O organismo é, pois, capaz de realizar
sozinho a sua própria cura: graças à sua força vital, encerra em si a
capacidade autocurativa. Hipócrates designava esta capacidade da força
vital por “natureza medicamentosa”. Modernamente, utiliza-se o termo imunidade.
A imunidade é a capacidade de
resistência e de defesa do organismo face aos processos mórbidos. Está
presente desde que o indivíduo nasce, tanto no estado de saúde como no
de doença. Mas as forças imunológicas são tanto mais fortes e eficazes,
quanto mais puro e equilibrado for o terreno sobre o qual devem actuar,
ou seja, o meio humoral. Pelo contrário, quanto mais saturado de
resíduos e mais carenciado este estiver, mais diminuem as suas
possibilidades de defesa.
Os diferentes elementos do sistema
imunológico (medula óssea, gânglios linfáticos, linfócitos, etc.)
encontram-se também, efectivamente, mergulhados no meio humoral, e a
sua eficácia depende da qualidade deste meio. A degradação do terreno, a
intoxicação e as carências podem atingir uma tão grande profundidade
que o sistema imunológico perde todas as suas possibilidades de acção. O
corpo fica, então, indefeso perante as agressões.
Ainda que na medicina natural se
considere o terreno determinante, nem por isso se minimiza a nocividade
dos micróbios. Os micróbios, os vírus e os parasitas são uma realidade e
representam um perigo potencial sério para os organismos humanos. Não
obstante, seria falso considerá-los como a causa primeira das
enfermidades. Muitas doenças não se devem a uma agressão microbiana –
por exemplo, o enfarte miocárdio, a diabetes, a asma, os transtornos
digestivos, nervosos, etc. Além disso, se o sistema imunológico estiver a
funcionar correctamente é capaz de defender o organismo de todas as
agressões microbianas. Se assim não fosse, o ser humano já teria
desaparecido há muito da superfície do globo.
Existe um equilíbrio subtil entre as
forças defensivas do organismo e as possibilidades de agressão dos
micróbios. Quanto maiores são as forças imunológicas, mais depressa se
reduzem os micróbios à impotência ou se eliminam. Eles podem penetrar
no corpo, mas sem produzir danos. Em troca, quanto mais débeis são as
defesas orgânicas, melhores as condições para o desenvolvimento e
proliferação dos micróbios, podendo estes invadir todo o organismo e
levar a cabo a sua acção devastadora. A já célebre frase que, segundo
parece, foi pronunciada por Pasteur no seu leito de morte, resume o que
foi dito:
“O micróbio não é nada, o terreno é tudo.”
Um terreno degradado, ou seja, um
terreno fortemente sobrecarregado e carenciado, é a condição ideal para
o aparecimento de todas as doenças. Os micróbios só se desenvolvem
sobre um terreno orgânico deficiente, e são destruídos quando esse
terreno regressa à normalidade. Parece, então, claro que a agressão
microbiana nada mais é do que a causa secundária da enfermidade.
A causa primária, fundamental, é um terreno degradado e, por conseguinte, receptivo aos invasores.
A cura não se obtém atacando a causa secundária, mas sim suprimindo a primária, quer dizer, promovendo o saneamento do terreno.
“A enfermidade exprime um esforço de purificação e de prevenção e não um trabalho de destruição da saúde.”
Do livro Compreender as doenças graves, de CRISTOPHER VASEY, editora Estampa
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