Nesse post sobre novos tratamentos para as doenças inflamatórias intestinais falamos muito
sobre sistema imunológico. Hoje visamos explicar como funciona a imunidade e o
papel de cada célula.
A palavra imunidade
deriva do latim immunis, que
significa isento, ou seja, o sistema imunológico nos deixaria isento de algo. O
sistema imune é composto por células livres (leucócitos), tecidos (tecido da
medula óssea que produz células do sangue, incluindo os leucócitos) e órgãos
(timo, baço e linfonodos). As substâncias
estranhas ao corpo são genericamente chamadas de antígeno o sistema imune luta
contra as substâncias que ele considera estranhas. Essas substâncias são chamadas
de antígenos e são combatidos pelos anticorpos, produzido pelo sistema imune,
que irão reagir de forma específica com os antígenos.
O processo de
detecção e combate ao agente invasor (antígeno) é denominado resposta imune. As
células do sistema imunem pertecem a dois grupos principais, os linfócitos e os
macrófagos. Vamos explicar a função de cada uma delas.
Os macrófagos estão
presentes nos tecidos conjuntivos e no sangue (aí são chamados de monócitos) e possuem a função de
detectar e fagocitar (processo que engloba e
digere substâncias no organismo) microrganismos invasores, células mortas e
vários tipos de resíduos.
- Linfócitos B:
produzem anticorpos.
- Linfócitos T
auxiliadores (CD4): são responsáveis por comandar a defesa do organismo. São estimulados
a ativar os linfócitos T matadores (CD8) e os linfócitos B.
- Linfócitos T
matadores (CD8): são responsáveis pela destruição de células anormais,
infectadas ou estranhas ao organismo.
Os outros órgãos relacionados
ao sistema imune citados acima também tem funções diferenciadas.
- Medula óssea:
produz os linfócitos B e os linfócitos matadores. Também produz células sanguíneas
e plaquetas.
- Timo: produz os
linfócitos T maduros.
- Linfonodos: estão
presentes nos vasos linfáticos e permitem que as partículas invasoras∕corpos
estranhos sejam fagocitadas pelos linfócitos que ali estão.
- Baço: filtra o
sangue para remover microorganismos, substâncias estranhas e resíduos celulares.
Também produzem linfócitos.
Como o sistema imunológico funciona?
Quando os antígenos são
detectados vários tipos de célula trabalham em conjunto para reconhecê-los e
responder. Essas células acionam os linfócitos B a produzir anticorpos, que irão
tentar travar os antígenos.
Uma vez produzidos
esses anticorpos continuam a existir no corpo da pessoa, de modo que, se ele
for novamente apresentado para o sistema imunológico, os anticorpos já estão lá
para fazer seu trabalho. Por isso que se alguém fica doente, a pessoa
geralmente não tem a mesma doença de novo. Se tem a mesma doença é porque há
outros antígenos que a causam. É o caso da gripe. Milhares de vírus são responsáveis
por causá-la.
Embora os anticorpos
possam reconhecer um antígeno e bloqueá-lo, eles não são capazes de destruí-lo
sem ajuda. É onde entram as células T, que irão destruir os antígenos que foram
marcados pelos anticorpos ou células que foram infectadas ou estão, de alguma
forma, alteradas.
Todos nós nascemos com a imunidade inata, que é um tipo de proteção geral. Muitos microorganismos que afetam outras espécies não nos afetam, por exemplo, a cinomose de cães e gatos não nos afeta, assim como o HIV não afeta esses animais. Inclui também as barreiras externas do corpo, como pele, membranas e mucosas, que são a primeira linha de defesa pra prevenir doenças de entrar no organismo.
A imunidade adquirida é o segundo tipo de proteção e desenvolve-se ao longo da vida. Envolve os linfócitos e seu desenvolvimento ocorre à medida que vai havendo exposição a doenças ou imunização (vacinas).
A imunidade passiva é “emprestada” de outra fonte e dura um curto período de tempo. Um exemplo são os anticorpos no leite materno que conferem ao bebê uma imunidade temporária enquanto o seu sistema imunológico ainda não está totalmente desenvolvido.
Mas o sistema imunológico não está livre de apresentar problemas. Esses problemas podem ser imunodeficiências, doenças auto imunes, doenças alérgicas e câncer. O que nos interessa são as doenças auto imunes, pois é uma característica das doenças inflamatórias intestinais.
Doenças auto imunes
Nas doenças auto
imunes o sistema imunológico se “confunde” e passa a atacar órgãos e tecidos saudáveis
como se fossem corpos estranhos. No caso das doenças inflamatórias intestinais então
podemos dizer que o nosso próprio sistema imunológico entende que nosso
intestino é um corpo estranho e passa a atacá-lo. Por isso que, em alguns
casos, precisamos tomar medicações imunossupressoras, como corticoides, Azatioprina∕Imuran∕Imunem
e as medicações biológicas (Infliximabe®, Remicade®), pois eles fazem com que o
sistema imunológico seja suprimido e, com isso, tenta-se controlar o “ataque do
corpo ao próprio intestino”. A desvantagem é que a imunossupressão é geral, ou
seja, as medicações atuais não conseguem atuar só no local (no caso, o
intestino); eles suprem a imunidade como um todo. Por isso que é comum a queixa
nesses pacientes que eles adoecem mais. De fato, o organismo fica mais
susceptível a doenças.
As doenças auto imunes atingem cerca de 3 a 5% da população e tem origem na delicada relação de fatores externos (ambientais) e fatores intrínsecos do organismos, como baixo controle imuno-regulatório e também alterações hormonais e predisposição genética.
Existem pouco mais de 30 doenças auto imunes, sendo que cada uma possui sintomas específicos e atacam órgãos distintos. Algumas delas, além das doenças inflamatórias intestinais: diabetes tipo 1, lúpus, esclerose múltipla, doença celíaca, psoríase, vitiligo etc.
Ainda há muitas hipóteses e controvérsias sobre o surgimento das doenças auto-imunes, mas os avanços na ciência estão acontecendo. Esperamos que em breve mais descobertas sejam feitas.
http://www.crohnecolite.com.br/2013/08/sistemaimune.html