As vitaminas, assim como muitos medicamentos, colocam três indagações muito importantes que tem a ver com a dosagem:
A
maioria segue uma curva: menos do que deve ter (ou tomar); o que deve
ter (ou tomar) e mais do que deve ter (ou tomar). Um exemplo é o
selênio. Dados epidemiológicos mostram que homens que vivem em áreas com
pouco selênio no solo apresentam taxas mais altas de câncer na
próstata; a correção de deficiências na quantidade de selênio que temos no corpo parece
ajudar a reduzir o risco do mesmo câncer; o excesso de selênio, ao
contrário, pode ser prejudicial e facilitar a expansão dos cânceres mais
agressivos e uma dose cavalar de selênio mata, como nos lembra o triste
caso do fazendeiro da Nova Zelândia que descobriu que tinha câncer. Leu
a respeito da correlação espacial (epidemiológica) entre selênio e
câncer da próstata e ingeriu grandes quantidades. Morreu, porque o
selênio é um veneno. A coagulação do sangue tem um ponto ótimo (de
fato, um intervalo: de xxx até yyy); quando leva muito tempo para
coagular, os remédios anticoagulantes podem ser mortais; quando coagula
rápido demais, precisamos de anticoagulantes.
A
segunda tem que ver com os problemas que algo que ingerimos (de uma
forma ou de outra) podem causar – os efeitos colaterais – e os
benefícios que o mesmo alimento ou medicamento nos trazem e para quê. A maioria dos medicamentos é indicada para o tratamento de doenças especificas, mas não de outras.
Finalmente,
a terceira tem a ver com a variação entre pessoas e a crescente
compreensão de que a medicina tem que ser personalizada. Os pacientes
não são iguais. E é preciso ajustar a dosagem a essas peculiaridades,
entre elas o peso do paciente e outras morbidades ou doenças que tenha.
E a vitamina D? Um artigo publicado hoje em Medpage Today
nos fala das dificuldades em definir a dose adequada. Deficiências
sérias de vitamina D foram relacionadas à maior propensão à tuberculose,
inflamações na espinha, doenças pulmonares crônicas, degeneração
macular e muito mais.
Do
lado negativo, as esperanças de que tomando altas doses de vitamina D
ajudaria a combater a esclerose múltipla foram para o brejo, assim como
as que ajudariam os pacientes com doenças crônicas nos rins.
Qual
o problema? Muitos benefícios da vitamina D foram baseados em dados
insuficientes e pesquisas mal-feitas. De uma pequena associação
estatística saltaram para grandes conclusões salvadoras.
Alguns estudos apresentados durante a conferência da American Heart Association
sugeriram que a insuficiência da vitamina D e algumas doenças cardíacas
estavam associadas. Mas são pesquisas pequenas, Fase I e II. Faltaram
as pesquisas grandes, Fase III, com grupo controle e tudo o mais, que
demonstrassem que reduzindo a deficiência na vitamina D reduziria o
risco de doenças cardíacas.
Há
uma pesquisa em andamento que pode ajudar, a VITAL, com vinte mil
pessoas. Pretende ver se suplementos de Omega-3 e de vitamina D reduzem o
risco de câncer e de doenças cardiovasculares. Considerando o grande
número de pesquisas pequenas e com deficiências, essa pesquisa clínica
chega atrasada. Deveria ter sido feita há alguns anos.
Uma
boa pesquisa controla o efeito de outras variáveis. Há uma série de
variáveis associadas com baixos níveis de vitamina D que também afetam
muitas doenças. Por exemplo: a principal fonte de vitamina D é a
exposição ao sol. Varia com o tempo de exposição e a área exposta[1].
Porém, as pessoas que se exercitam e que não têm uma vida sedentária
também têm maior exposição ao sol: obesidade, falta de exercício e
alimentação gordurosa, rica em carnes vermelhas etc. é são fatores que
aumentam o risco de várias doenças e reduzem a chance de cura. O efeito
dos níveis mais altos de vitamina D pode ser devido ao exercício,
nutrição adequada etc. Por isso, necessitamos de pesquisa Fase III, que
incluam todos os fatores relevantes conhecidos.
Mas
há benefícios inegáveis, particularmente no que concerne os ossos, cuja
saúde é protegida pela vitamina D. Há alguns dados que demonstram que
suplementos com vitamina D aumentam a sobrevivência de vida de mulheres
idosas.
De quanta vitamina D precisamos? As estimativas mais baixas são do Institute of Medicine (IOM): pelo menos 25 nanogramas por mililitro de serum
sanguíneo, que equivale a umas 600 unidades internacionais (IU) por
dia; depois dos 70, é necessário aumentar para 800 unidades diárias.
Nem
todos concordam. O Dr. Charles “Snuffy” Meyers recomenda níveis muito
mais altos para seus pacientes de câncer da próstata: cinco mil unidades
diárias.
Realmente, ficamos sabendo pouco.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ