Os pés normalmente são negligenciados no
trabalho corporal, mas, como qualquer parte do corpo, têm articulações,
músculos, cápsulas e ligamentos, necessitando ser mobilizados, alongados
e fortalecidos para se tornarem e se manterem saudáveis.
Pés
mal tratados podem comprometer a saúde de todo o corpo, incluindo da
coluna e de outras articulações. Pisar mal pode vir a ser a causa de
cefaleias, dores nas costas, escolioses e lordoses, além de problemas
nos ombros, nos membros inferiores, na pélvis ou em outras partes do
corpo, principalmente quando combinamos isso com carregar peso
excessivo.
Os pés são a base do corpo humano e têm a
função de prover estabilidade, além de exercer funções importantes como a
marcha. Qualquer lesão ou machucado pode acarretar assimetria e
problemas de toda ordem neuro-musculoesquelética. O pé é a extremidade
dos membros dos animais terrestres que assenta no solo. No homem e em
outros bípedes, o termo se aplica apenas à parte final das extremidades
inferiores.
Cada pé tem 26 ossos, cerca de 20
músculos, ligamentos, tendões, tecidos que atuam como amortecedores,
absorvem e fazem a transdução do impacto de nossa pisada no chão para as
articulações acima.
Os ossos dos pés formam uma plataforma
mantendo a distribuição adequada para o equilíbrio dinâmico e, sendo uma
unidade funcional, "os ossos do pé também transferem o peso do
calcanhar para a parte anterior do pé, impulsionando a marcha".
Segundo o francês Eric Viel (2007) "a
reverberação dos choques no calcanhar dissipa-se no esqueleto e nos
músculos do membro inferior, passa pela pelve, para ser amortecida nos
discos intervertebrais, e atinge a cabeça". Daí podemos perceber a
importância de incluir os pés como parte fundamental dentro de um
programa de exercícios.
"Uma rede de músculos, tendões e
ligamentos move, suporta e mantém os ossos do pé na posição certa.
Ajuda-nos a manter o equilíbrio sobre superfícies desiguais,
proporcionando-nos a propulsão, elasticidade e flexibilidade necessárias
para caminhar, saltar e correr."
Os músculos dos pés são divididos entre
intrínsecos e extrínsecos. Suas funções incluem mover e estabilizar os
dedos no chão, suportar o arco, levantar os dedos e controlar os
movimentos do tornozelo etc. Os ligamentos fixam os tendões no lugar e
estabilizam as articulações sendo a fáscia plantar, a estrutura mais
longa do pé "que forma o arco entre o calcanhar e os dedos e permite
manter o equilíbrio e caminhar".
Segundo Eric Viel, 2007, "O pé age, ao
mesmo tempo, como uma mola de lâmina ao se deixar comprimir, e como
amortecedor hidráulico dissipando uma parte das forças. Por essa razão,
ele foi comparado a um amortecedor de choques e para cumprir eficazmente
a sua função o pé deve ser flexível. O recebimento do peso do corpo
determina, nas pequenas articulações, movimentos complexos de
deslizamento e de rotação nos três planos no espaço. Rigidez é sinônimo
de início das dores". O pé deve ser flexível e proporcionar uma sensação
de leveza e flutuação.
Esse tema foi abordado durante a
Conferência Internacional da PhysioPilates - Polestar, por Trent
McEntire, conferencista internacional e presidente do conselho de
administração da Pilates Method Alliance (PMA), uma Associação
Internacional de profissionais de Pilates, fundada há 10 anos nos EUA,
que vem definindo parâmetros para o Pilates. Trent chamou nossa atenção
para a importância da saúde dos pés e alertou sobre a importância de
estimular essas estruturas para uma melhor deambulação e
postura.Ministrou exercícios específicos para desenvolver a
inteligência, a força e a mobilidade dos pés incluindo o uso da banda
elástica. Os participantes do workshop relataram uma sensação de
flutuação e equilíbrio em todo o corpo após as práticas.
Os pés são divididos em três partes: Tarso
- a parte superior, que se liga com os ossos da perna; metatarso - a
parte mediana; e dedos que são as extremidades. Algumas partes dos pés
são denominadas vulgarmente de "planta do pé" - a parte do pé que apoia
no solo; é formada pelo calcanhar e pela face inferior dos ossos do
metatarso e das falanges e é coberta por uma pele mais espessa do que no
resto do corpo; "calcanhar" que é o osso calcâneo; "tornozelo", que é a
articulação do pé com a perna.
Existem alguns tipos de pés. O pé plano
ocorre pela queda do arco longitudinal do pé. Os ossos do tarso tendem a
formar uma linha reta em vez de um arco, perdendo a função de
amortecimento.Também temos o pé cavo, em que o arco longitudinal é muito
acentuado, há excesso de pressão nas cabeças dos metatarsos que estão
abaixadas, com formação de calosidades e fascite plantar. Também existem
outros tipos de desalinhamentos:os pronados, quando o peso cai para
dentro, os supinados, quando o peso está mais para a borda de fora do
pé, entre outros. O apoio anormal leva também à formação de calosidades
plantares e à metatarsalgia crônica. A persistência dessas alterações
leva à artrose precoce, necessitando de exercícios de alinhamento,
mobilização, propriocepção e força na sua trama de ossos, músculos,
tendões, cápsulas etc.
Existem duas fases da marcha chamadas de
apoio e oscilação, que são subdivididas em subgrupos nos quais o pé tem
grande importância. Qualquer alteração numa dessas fases, seja por
comprometimento no pé ou em qualquer outra área do corpo, pode causar
lesões ou desequilíbrios afetando o corpo como um todo. Outras
estruturas importantes do corpo fazem coordenação com a passada do pé:
joelho, quadril, a posição do tronco e a cabeça, sendo importante manter
essas áreas alinhadas para uma melhor harmonia.
Os ossos dos pés são projetados para se
articularem e a mobilização deve ser estimulada e em conjunto com outras
partes para oferecer uma melhor movimentação nas atividades de vida
diária, de vida profissional ou de recreação. Mas quem é que cuida dos
pés e das suas articulações?
Durante nossa evolução de vestuário foi
necessário o uso de sapatos para cumprirmos com os nossos compromissos
e, por questões estéticas, desenvolvemos modelos cada vez mais exóticos,
que enchem os olhos de homens e mulheres. Mas, nem sempre esses sapatos
são confortáveis para os pés e, com freqüência, torna-se um sacrifício
para todo o corpo e para os próprios pés equilibrar-se sobre eles.
Para uma festa, escolhemos os sapatos mais
bonitos, e não temos a urgência de nos preocupamos com o conforto, por
ser uma situação extraordinária ou pontual. Mas imaginemos quem precisa
utilizar um sapato de salto alto para trabalhar e necessita ficar de
seis a oito horas por dia, todos os dias, com aquele calçado?
Já observaram a postura de pessoas que
caminham de um lado para o outro com sapatos de salto alto ou apertados?
Caminham em bloco, esquecendo-se de articularem esses ossos tão
importantes, perdendo a sensação de flutuação que um pé bem trabalhado
pode dar a todo o corpo. Esses indivíduos estarão mais sujeitos a terem
lesões de todo tipo, ao longo de anos.
As mulheres, por exemplo, são candidatas a
problemas em pés, tornozelos, joelhos e coluna, por conta do sapato
alto. De acordo com Tatiana Abreu, sócia-fundadora da FisioRun
Fisioterapia, "os saltos muito altos alteram a biomecânica da passada.
Há, ainda, dificuldade na flexão da planta do pé, o que prejudica a
circulação e potencializa a tendência ao aparecimento de varizes". Mas,
os problemas não param por aí. A fisioterapeuta ressalta que, por conta
da posição dos pés, "o salto 'encurta' a musculatura da panturrilha e,
consequentemente, também o tendão de Aquiles. Dores no joelho, no arco
anterior dos pés, joanetes, calos, tendinites, unhas encravadas e danos à
coluna são outros problemas causados pelo salto alto". O salto alto
muda a pisada normal, o apoio da carga desarrumando os ossos do pé,
impedindo a sua mobilização, alterando o equilíbrio, o centro de
gravidade e comprometendo a relação de alinhamento e sobreposição da
cabeça, ombros, cintura pélvica e pés, sendo assim, potencializador de
diversos problemas na coluna, quando utilizados em excesso.
É necessária uma mudança de hábitos como a
de escolher cuidadosamente calçados mais adequados e avaliar sua marcha
com regularidade.
Algumas patologias são chamadas de
"síndromes" do pé e são percebidas quando surgem manifestações de:
mialgia, tendinite, neurite, distensão, bursite de calcâneo,fascite
plantar, metatarsalgia, calcâneo doloroso, dor no ante-pé, sesamordite,
calosidade, fraturas,esporão e todas elas causam alterações na postura.
Essas síndromes devem ser investigadas e
tratadas de imediato, para evitar lesões de maior impacto, porém o
melhor caminho é a prevenção, com o trabalho diário de aquecimento,
alongamento, fortalecimento muscular e consciência corporal.
É clara a importância da atenção e
cuidados preventivos para evitar as alterações nessas estruturas de
base, contribuindo, assim, para a diminuição da extensão dos
desequilíbrios que desencadeiam nas estruturas superiores.